quinta-feira, 13 de agosto de 2020

A prefeitura de Vigia montou uma “instalação” na orla para homenagear Tia Pê (Francisca Lima do Espírito Santo). Louve-se a iniciativa.

Tão recomendável seria a prefeitura concluir a reforma do Museu, literalmente abandonado. A fachada posterior do prédio ameaça ruir. É quase um crime a situação em que a prefeita vai deixar o museu – uma desconsideração com a própria mãe, que montou o equipamento cultural - digo “vai deixar” por não haver a mínima condição de a prefeitura concluir a obra, restando pouco mais de 4 meses de governo; se não fez em três anos e meio de mandato, não fará mais.
Essa homenagem a Tia Pê ganharia melhor efeito se o museu, recuperado, criasse um espaço para o carimbó e o município editasse obras de pesquisa, CD e vídeos documentais.
Por coincidência, ao ler um post encomiástico (não precisa babar ovo na beira da saia da prefeita para registrar a realização da comuna) sobre os “tambores de cimento”, achei nos meus alfarrábios um texto de Vicente Salles intitulado "Carimbó da Vigia ou Zimba". Ele cita Tia Pê como “festeira consumada, patrocinadora de outras danças, folias, festas religiosas e promesseiras”.
Esse texto é parte de estudo que o pesquisador paraense fez em Vigia, em 1968, quando acompanhava sua esposa, Marena Isdebski Salles, em trabalho acadêmico sobre o tema. Tornei-me amigo de Vicente mais tarde, já atuando na imprensa de Belém e nunca deixamos de nos falar até vésperas da sua morte, em 2013.
O trabalho de Marena foi publicado na Revista Brasileira de Folclore, em 1969. Foi depois do trabalho de Vicente que eu, Francisco Soeiro e Francisco Meireles organizamos em Vigia um festival de carimbó reunindo grupos dos municípios vizinhos, atraindo muita gente de Belém, na quadra do Bertoldo Nunes (tenho dúvida se já não foi em 1971, quando eu já estava em Belém). Certamente, Tia Pê não faltou.
Apareceu em Vigia, naquela época, um cineasta que filmou e gravou o festival. Desconheço o destino do material colhido. Seria, hoje, uma preciosidade.
Minha intimidade com Carimbó vai além: quando eu trabalhava na Albrás, promovemos uma noite cultural, na Vila dos Cabanos, e eu levei o grupo do Santana, os Tapaioaras, para se apresentar para uma plateia na maioria de mineiros, paulistas, capixabas, funcionários da Albrás/Alunorte. Foi um sucesso.
Depois, quando eu presidia a Funtelpa, no governo Almir Gabriel, idealizei a produção do CD dos Tapaioaras. Tenho apenas um exemplar, entreguei uma parcela do disco ao Santana, que os vendeu. Vicente Sales escreveu um belo libreto e Luiz Braga fez a um ensaio fotográfico do grupo, em Vigia, para ilustrar o álbum produzido por Toni Soares e Beto Fares, ambos da equipe da Rádio Cultura., acho que isso ocorreu no ano 2000.
Desculpa aí, tá! Essa uma contribuição efetiva de valorização e promoção da cultura vigiense, que me orgulha muito de ter executado. Algo que fiz pela minha terra com muito amor e paixão.

Segue aí o paper do Vicente Sales.